domingo, 4 de setembro de 2016


 A RAZÃO DO SOFRIMENTO É O DESEJO


Nas rodas antigas dos bruxos de raiz contava-se uma história de um bruxo chamado Nabani, que certa feita disfarçou-se de mendigo para dar uma lição num rei famoso por ser orgulhoso e arrogante, do reino de Necanada, conhecido por Bibelot.

A imagem que o bruxo projetava era a de um mendigo em último estágio de miséria. O rei ao se deparar com tal imagem falou em alto e bom som que bastava ele lhe pedir o que quisesse e seria atendido.

O mendigo então retrucou que não havia nada que o rei pudesse lhe dar que lhe fosse de serventia. Humilhado em sua tentativa de parecer misericordioso aos olhos de Deus e dos súditos, o rei insistiu que poderia lhe dar qualquer coisa que o mendigo pedisse, e tanto insistiu que Nabani estendeu uma cumbuca vazia e disse: então encha esta cumbuca de ouro.

O rei fez um sinal e um de seus mensageiros logo apanhou um grande saco de moedas de ouro e despejou dentro da cumbuca, e para espanto de todos, as moedas desapareciam dentro do saco. E como não se deixava abater mandou buscar mais. Mas tudo que era lançado desaparecia. Quando acabaram as moedas, passaram a despejar barras de ouro e joias.

Basta dizer que o monarca ficou na miséria e vencido pediu apenas para que o mendigo lhe explicasse o que havia acontecido com todos aqueles tesouros. Ao que o mestre bruxo respondeu: - Esta cumbuca é como os desejos humanos, nunca podem ser saciados e invariavelmente levam à miséria os orgulhosos.

 Dizem que o rei tornou-se um discípulo de Nabani e uma vez tombado o seu olot (ego) ele recuperou a sua fortuna e reinou com sabedoria pelo resto de seus dias no reino de Necanada. 

Desse modo, pergunte a qualquer mestre a razão do sofrimento humano e ele lhe dirá: o desejo. E ainda lhe dirá, ao contrário, para buscar seus dons, ou seja, a razão de vida. A partir daí, exerça com totalidade os seus dons e tudo o mais será consequência, sem que ele tenha que colocar a sua energia na expectativa pelos resultados.
          
A história também nos revela ser o orgulho quem está por trás de toda a ruína que se possa acometer ao ser humano. O mestre Nabani compreendeu que o rei possuía riquezas interiores que só seriam vistas por ele quando olhasse a sua miséria exterior.

O interior pode se contentar com o pouso da borboleta, mas o externo não se satisfaz nem com um Himalaia inteiro de ouro. A essência nutre-se com a vida real, enquanto o olot não se contenta com nenhuma das ilusões que fomenta. Buda está certo.

O mestre nos alerta para estarmos abertos a receber as surpresas do dia e fazer com elas o melhor possível e sendo assim, passa-se a louvar a chuva, mesmo tendo planejado caminhada ao sol. O curso é mudado em parceria e contentamento com a natureza, aproveitando cada momento da existência.

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